domingo, 27 de novembro de 2011

NAS FÍMBRIAS DA ORDEM E DO PROGRESSO: OUTRAS “VOZES” E “HISTÓRIAS DE VIDAS” DIFERENTES DOS AGENTES DA MODERNIZAÇÃO EM ARACAJU

O discurso modernizador das elites em Aracaju marcou as primeiras décadas do século XX, a ordem e o progresso defendido a todo custo por essa elite transformou profundamente a vida da população pobre de Aracaju que vivia na “margem” desse progresso e modernidade que alavancava o futuro promissor da cidade. Mas, devemos compreender também as outras vozes que faziam parte dessa modernização, constatar que a população pobre não era tão bem tratada como aparece no discurso da elite e moravam em condições precárias.
A classe operária de Aracaju era submetida a duras jornadas de trabalho, sendo explorados constantemente no seu ambiente de trabalho, seus filhos não tinham as mesmas oportunidades que os filhos de seus patrões, a única solução para a elevação dessa classe seria criar uma escola para o trabalhador. O discurso dessa classe do centro operário sergipano ia de encontro com o da elite, enquanto um dizia que na cidade de Aracaju não havia pobreza, mas sim modernidade e que os operários eram tratados bem como amigos por seus patrões, o outro contradizia esse discurso e questionava acerca das condições de vida dos operários que eram péssimas.
Sendo assim, há vários outros discursos acerca da modernização de Aracaju não somente da elite, devemos dar espaço ao outro com suas vozes esquecidas ou até mesmo abafadas diante de uma sociedade que valoriza a história oficial não a história de vozes destoantes, a contribuição de homens e mulheres pobres, um exemplo desse outro é o depoimento de Dona Antônia, uma operária que trabalhou trinta anos na mesma fábrica (Sergipe Industrial). 
O discurso do outro é extremamente essencial para compararmos situações distintas e ouvir as vozes da classe operária que também contribuiu para Aracaju virar a capital da “modernidade”, porém pagaram caro foram expulsos de suas moradias em prol do progresso e da ordem. A população pobre de Aracaju sofreu as conseqüências desse discurso elitizado que queria a todo custo à modernização da cidade não poupando o morro do Bonfim onde residia boa parte dessa população que foi destruído para dar espaço a civilização e a modernidade.
Portanto, não devemos nos ater somente ao discurso elitista da modernização de Aracaju, mas dar espaço e voz aos outros discursos, histórias de vidas que também contribuiu para entendermos a real modernização de Aracaju, essas ficam esquecidas e fazem parte das fímbrias da ordem e do progresso.                 

Referência:
SOUSA, Antônio Lindvaldo. Temas de História de Sergipe II. Nas fímbrias da ordem e do progresso: outras “vozes” e “histórias de vidas” diferentes dos agentes da modernização em Aracaju. São Cristovão: Universidade Federal de Sergipe/CESAD, 2010, p.179-200.   

domingo, 13 de novembro de 2011

“USO DO PRIVADO NO PÚBLICO”: ORDEM PÚBLICA E CORONELISMO EM SERGIPE (1889-1930)


As elites de Aracaju tinham um discurso modernizador de ordem e progresso, porém as relações de poder em Sergipe não eram tão calmas e tranquilas como a elite defendia, havia um descontrole na ordem pública com o aumento das subdelegacias nas décadas de 10 e 20.  
            O uso do privado no público interferia na ordem pública, pois os poderes locais manipulavam o público em prol do privado e de interesses pessoais causando muitas vezes conflitos entre as autoridades. Os órgãos públicos de Sergipe responsáveis pela manutenção da ordem em Aracaju e regiões circunvizinhas ficavam a mercê das relações pessoais de poder que as autoridades locais de determinada região exercia na sua localidade, fazendo uso do privado no público em prol de seus próprios interesses eram os chamados “coronéis” que tinham poder para colocar no cargo público aqueles escolhidos por eles próprios era a velha prática do dar e receber, ou seja, cargos de chefia eram exercidos por pessoas incapacitadas e leigos.
                   As comarcas, delegacias, penitenciárias, casas de prisão, a polícia em Sergipe não foram eficientes para exercerem seus papéis de controle público, pois não controlava totalmente a população e o banditismo, porém o discurso das elites propõe em seus relatos mostrar para a população e seus eleitores que garantiram a ordem em Sergipe graças à eficácia da polícia e ao povo sergipano.
            Portanto, as relações pessoais de poder em Sergipe em prol de interesses individuais interferiam no andamento das comarcas, delegacias, cadeias e na funcionalidade da polícia, já o discurso modernizador das elites sergipanas se contradiz ao analisarmos mais profundamente a manutenção da ordem pública.    
  
 Referência:
SOUSA, Antônio Lindvaldo. Temas de História de Sergipe II. “Uso do privado no público”: ordem pública e coronelismo em Sergipe. São Cristovão: Universidade Federal de Sergipe/CESAD, 2010, p.161-178.